2024/03/16

Prefácio à primeira edição de “Dilemas cotidianos”.


Prefácio à primeira edição de “Dilemas cotidianos”.

Curitiba: Carlos Magno Corrêa Dias, 2010.
ISBN 978-85-88925-12-0.


A necessidade de escolher entre duas opções mutuamente exclusivas, difíceis ou inconvenientes, que podem ser ambas contraditórias, antagônicas ou insatisfatórias, conduz o ser (que se obriga pensar) a travar intensas batalhas contínuas com seus próprios conceitos e valores levando-o à perplexidade, por vezes não transitória, dos condicionais e contingenciais dilemas.

Muitos são os problemas associados a distintas soluções que, em contrapartida, não podem ser aceitas sem, contudo, gerar inquietações ou hesitações. Neste sentido, quando a sociedade se defronta com o hodierno do mundo e passa a procurar alternativas à falta de humanização entre os homens, a consciência inquieta, por vezes assustada, se deixa embaraçar e mergulha, agoniada, num dilema insolúvel, imposto pela razão aos sentimentos cerceados.

O dilema imposto é o da pretensa obrigação de se escolher entre duas alternativas contundentes e inaceitáveis: deve a razão redefinir a imagem de homem para adequá-la ao papel desumano legado pela própria humanidade ou, transcendendo ao relativo das imagens, a razão teria que abandonar o rótulo humanidade e criar sua própria versão idiossincrática de homem para permitir reconhecer, definitivamente, a falta de humanização que vem individualizar o homem enquanto homem?

É percebido, porém, que tanto num quanto noutro caso, não se tem vislumbrado a possibilidade, mesmo que remota, de se renunciar às posições consolidadas. Parece, também, não ser de todo concebível manter uma imagem humanista de homem sem deixar de levar em conta a desumanização da humanidade e, nem tão pouco, se pode admitir a inexistência do humanismo relegando os dogmas associados à humanidade do homem a uma idealização compulsória assaz insatisfatória que centrada na sempre visão pluralista de sociedade impõe apenas mais contradições.

Em DILEMAS COTIDIANOS são postos em confronto os questionamentos sobre os dilemas que continuam necessitando de apreciação para se permitir o reconhecimento das contradições que fazem dos homens seres antagônicos à humanidade quando estes mesmos seres pensantes, dotados do natural e abundante bom senso, se obrigam transpor os limites remotos da humanização e deixam de ser humanos de acordo com a dignidade que deveria os distinguir.

Em um primeiro momento, na forma de poesias, que por si só gritam suas intenções nas mais variadas intensidades e nos timbres menos sutis, são expostos, não de forma explícita ou categórica, vários dos supostos dilemas que impedem o homem de avançar na caminhada que o levaria à efetiva evolução enquanto ser que se sujeitaria pensar a sua humanidade.

Na segunda parte da obra é apresentado, também, em AFORISMOS CONTINGENTES, conjunto de preceitos que encerram semelhante propósito ao das várias poesias que os antecedem, mas que permitem explicitar, de forma mais direta, diga-se objetiva, algumas das várias posições envolvidas e inquietudes reveladas.

As questões tomadas neste compêndio, quer sejam em versos ou em aforismos, têm a intenção, não menos provocativa, de instigar, de desafiar, ou mesmo, de conduzir, os leitores a refletir sobre questões que permitiriam a transcendência da aparente humanidade consolidada para a compreensão que sem o reconhecimento e a manutenção efetiva da dignidade intrínseca de cada ser não se poderá atingir a almejada humanização.

A dignidade é atributo da humanização e toda vez que passa a ser desrespeitada e aviltada pelos próprios homens a humanidade vem sobrepujar-se a si mesma instanciando a opressão, a escravidão, a degradação, a negação da liberdade, gerando outros tantos dolos para o homem enquanto ser digno de respeito.

Se o homem for entendido como um fim em si mesmo deixando de ser pensado como um meio, a humanidade atingirá a humanização pretendida e assim o dilema aventado não mais se manterá e, por estrita consequência, será facultado à humanidade atingir sua excelência de fato.

Agradeço a todos aqueles que ao se permitirem a leitura do conteúdo material explicitado no presente trabalho possam, em dada medida e com a necessária intensidade, compartilhar, por extensão, o conjunto de reflexões que é almejado disseminar ou, ao menos, oportunizar.

Que seja possível, diante dos múltiplos significados envolvidos, um olhar mais atento, mais profundo, menos condicionado, que priorize, acima de quaisquer intenções, a simples e ao mesmo tempo complexa ou imprescindível promoção humana.

Aos que nos amam incondicionalmente, agradeço o continuado apoio, o intensificado estímulo e a sempre e indispensável presença.

A DEUS, agradeço continuamente.

Carlos Magno Corrêa Dias
Curitiba-PR, 01/10/2010